terça-feira, maio 23, 2006

A barba

  
cresce há três dias e de passagem reparo que o JD está a um polegar do fundo.
O metálico da porta do elevador soou quando se fechou atrás de mim.
A claridade picou-me a vista... ou teria sido a crise de vulgaridade por que passava provocada por falta de criatividade, vácuo mental?
Devia estar com um aspecto gainsbourguiano porque o sorriso luminoso da vizinha, desta vez amareleceu, com o "salut, ça va?" dito sem a convicção do costume.
Segundo as gordas dos jornais do quiosque, nada de significante. A "vida" continuava.
O café sem açucar escaldou-me o estômago. Devo ter dito algo que não me lembro, pois a bar maid olhou-me plo canto do olho.
Atestei. O POS estava off... "depois passo cá", disse.
Enfiei-me a custo no décimo nono itinerário complementar, que de complemento nada tem. A borregada, da qual eu me sentia o carneiro mor, lá ia, obedientemente perfilada e a queimar combustivel, furiosamente... parada.
No rádio, a euforia antecipada pela proximidade de mais um campeonato.
Reparei no cadáver do gato ao pé do separador... apodrecia ali há uns quatro ou cinco dias. Machado Vaz falava de arrebatamentos e folguedos amorosos.
Porra... as artimanhas a que recorremos para silenciar a consciência que teima em nos boicotar...


-Se choras por não ver o Sol, as tuas lágrimas impedir-te-ão de ver as estrelas-

Tagore

1 comentário:

nobreka disse...

É linda a frase do Tagore... Tu andas, de facto, com muita inspiração. Estou a adorar. Um beijo