sexta-feira, abril 28, 2006

Pros and cons




Devia-se estar sempre apaixonado. É a razão pela qual nunca nos devíamos casar.
Wilde, Oscar

terça-feira, abril 04, 2006

o espinho




vai emergindo de uma greta na lápide do ontem

as águas do devir jorram na torrenteza do passado
por baixo das pontes que encimam a pujança do tempo

as névoas do meu futuro sublimaram-se e ficaram
empedernidas na teia da borucracia vibrante
qual caruncho alimentando-se da estrutura metálica do passível

os seres desfilam de lábio pendente e olhar estrábico
encaminhados por uma retórica crua e incolor
a caminho da ponte do esquecimento que vai dar a margem alguma

segunda-feira, abril 03, 2006

Sou descendente

de agricultores que fugiram ás agruras do campo, eram passadas cinco décadas do século passado.
Fui parido e criado cá na urbe, dando-se assim inicio ao corte da ambiência que vinha formatando a carga genética dos meus antepassados.
Lembro-me então que, pelo menos uma vez por ano, na altura das férias se regressava á aldeia beirã. Não sei de que parte da minha infância me chegam as primeiras recordações lá do sítio, mas as que tenho estão bem vivas ainda- gostos de maçâ reineta, cebola, aromas de bosta, terra acabada de lavrar, todo um manancial de sensações que marcaram as minhas primeiras incursões plos meandros campestres, cheias de curiosidade pelo desconhecido e pela novidade, já que cá na cidade era fechado a sete chaves, guardado das pretensas ciladas urbanas, não me fosse acontecer algo de extremo.
Surge então a imagem do meu avô no meio de todo o resto. Vem até mim numa moldura fora do contexto, como que enquadrada noutra realidade. Na minha pequenês da época, olhava-o cá de baixo com admiração- tinha mãos rudes e grandes, sendo que se baixava e me pegava ao colo, ficando eu á altura do seu sorriso e da sua calva enorme- olhava-me com um olhar cor de mel claro com um silêncio eloquente, que terminava quase sempre com um beijo na testa que eu me apressava a limpar.
Recordo com saudade infinita, as viagens a caminho de uma propriedade que ele cultivava, encavalitado na burra, extasiado com a altura e os balanços e a obsessão de não cair- "segura-te", dizia-me.
O avô era carpinteiro- fazia carros de bois, sendo o único artesão que se dedicava ao metier num raio de Kms. Foi um negócio próspero, na medida em que tinha o exclusivo de uma clientela numerosa... nunca lhe conheci ajudantes. Usava métodos de produção quasi rudimentares, mas o produto final era perfeito. Esculpia a madeira de sobro na perfeição sempre com ferramentas manuais. Quem me dera ter herdado o seu talento...
Guardo a sua memória com saudade, como um pôr do sol de outono cuja paisagem não se repetirá. Morreu há dezassete anos por esta altura. Presto-lhe homenagem assim... até um dia avô.

domingo, abril 02, 2006

"A Pessoa




que julga estar sempre na posse da verdade demonstra uma ignorância suprema, além de uma arrogância intolerável. (...)mas pensar que já sabemos tudo, que a única missão dos que nos rodeiam é escutar-nos, denota uma miopia que nem o laser seria capaz de corrigir"

Maria Jesus Álaya Reyes