A manhã junto ao cais estava fria. O azul do céu reflectia-se em circulos e linhas não contínuas, dando á água semi transparente um quê de psicadelismo.
A cabeça doeu-me ainda mais quando o silvo da grua irrompeu mesmo por cima do sítio onde eu passava. Café sem açucar devia sortir efeito. De repente os estímulos sonoros começaram a acentuar-se, como se a cidade tivesse começado a funcionar naquele instante- de facto a sensibilidade á dor agudizava-se ao mais pequeno grito de gaivota...
Bebi o café rápidamente. As borras lá no fundo da chávena deviam significar algo... quando ía a sair dei um encontrão numa negra cúzuda, como só as negras são. Não deve ter dado pelas minhas desculpas, já que gritou que “cria meia de reite e um corassante com créme”. E a cabeça num inferno de dor...
Entrei no barco de ligação ao outro lado. Vinha repleto á chegada, mas á ida embarcaram comigo meia duzia de pessoas. Recostei-me no conforto temporário da cadeira que se pareceu acentuar pela ausência dos acotovelamentos da hora de ponta.
Fechando os olhos, deu para perceber melhor o zumbido nos ouvidos. O balanço do barco, que se preparava para abandonar o cais, foi me provocando uma dormência doce que acabou por me alhear do que me rodeava.
Vim a mim rodeado de gente- os viajantes de volta já lotavam o barco na sua totalidade. Os funcionários iam começar a deslocar o portaló, quando o pisei em direcção a terra firme, o que os levou a olharem-me com impaciência.
Olhei o sol de frente. Estava amarelo-pálido por causa da neblina provacada pelas chaminés das fábricas da cintura indústrial que se prolongava ao longo da margem.
Crianças de escola afluiam rápidamente com semblantes ensonados, no momento em que os homens da manutenção da estrada repintavam a passadeira que dava acesso á escola. Repintavam e praguejavam por causa de pegadas brancas que evoluiam para dentro, depois de alguém ter entornado a lata de tinta branca.
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